Circuito Fotografia e Patrimônio
Fotografia e patrimônio como expressão de histórias diversas e próximas ao público
Em agosto de 2017, a Alameda Travessia da Praça da Liberdade, marco arquitetônico de Belo Horizonte, extrapolou seu próprio significado histórico: tornou-se ponto de partida para um passeio por outras memórias, pela cultura, tradições e saberes das três capitais mineiras: Mariana, Ouro Preto e BH. Joias do patrimônio material e imaterial do estado, documentadas em histórias visuais e outros suportes artísticos, puderam ser admirados por muitos durante o Circuito Fotografia e Patrimônio – realizado pelo Iepha-MG em parceria com a NITRO.
Com uma programação diversa, a iniciativa reuniu desde os tradicionais fotógrafos lambe-lambe do Parque Municipal, a oficinas de meme e memória, duelo de rimas, além da exibição de fotografias e filmes a céu aberto, exposições nos prédios históricos da Praça da Liberdade, passeio fotográfico, rodas de conversa e concurso de fotografia.
Para a historiadora Michele Ar
royo, uma das idealizadoras do Circuito, e na época presidente do Iepha-MG, a construção da programação foi uma importante ação de reflexão e valorização da fotografia como forma de expressão da diversidade de olhares sobre o cotidiano e histórias de vida. “As atividades buscaram trazer para o Circuito Liberdade vivências do público com acervos fotográficos de lugares e situações diversas, de forma a reconstruir caminhos nos tempos da memória ressignificando no presente vivências plurais. Neste encontro, a fotografia foi também tratada como documento, patrimônio cultural e suporte de memórias.”
Identificação e preservação
Gustavo Nolasco, idealizador do Circuito ao lado de Arroyo e de Bruno Magalhães, costuma dizer que um território só é vivo e tem alma quando contamos nossas histórias construídas a partir dele. Essa reflexão é, por assim dizer, o que guia os projetos de fotografia e patrimônio da NITRO – antes de convidar a pensar sobre preservação, as inciativas aproximam as pessoas do patrimônio a partir de suas próprias memórias.
“Acho que a forma mais palatável, efetiva, plural e democrática de conscientizar alguém ou aumentar o contingente de pessoas na defesa e na valorização do patrimônio cultural é gerando nelas orgulho por sua própria história para, em seguida, mostrar a elas que essa história é construída a partir de memórias preservadas. Assim, elas passam a entender que é preciso preservar os lugares, os modos de fazer, os legados, os ensinamentos e outros tantos itens que foram fundamentais para manter viva essa história pessoal – ou coletiva -, da qual elas têm orgulho. E essa história construída dessa forma é o que chamamos de ‘identidade’”.
Nolasco conta que quando Bruno Magalhães e ele iniciaram a tarefa de montar a programação do Circuito, partiram da premissa de criar atividades múltiplas, do ponto de vista do formato e das áreas profissionais (fotógrafos, jornalistas, historiadores, arquivistas, documentaristas, arquitetos, entre outros). “A gente quis mostrar para públicos diversos que na vida deles e nas suas áreas de atuação, independente de quais forem, existe o ponto comum de que é preciso, sim, valorização e preservar memórias, histórias e os patrimônios.”
Aproximar pela fotografia
Para Magalhães, além do Circuito chamar atenção para o caráter documental e de preservação da fotografia, ele mostrou o poder que ela tem de aproximar as pessoas de algo que pode parecer técnico, frio e distante, como é o caso do patrimônio. “Com a fotografia, criamos uma forma mais relacional, conseguimos estabelecer uma conexão mais direta com o público. Além dessa aproximação, o Circuito jogou luz a trabalhos que estão muitas vezes escondidos em arquivos públicos, levando esse patrimônio para a rua, criando acesso por meio das exposições, dos seminários, pelos passeios fotográficos e também por publicações que ficam como um dos legados, como uma revista que abordou o encontro da fotografia e do patrimônio.”
Magalhães destaca ainda o importante intercâmbio de saberes compartilhado com o público por instituições convidadas, que são referência na democratização da fotografia e do patrimônio, como é o caso do Centro de Fotografia de Montevideo (que tem um trabalho significativo de popularização do patrimônio por meio de galerias fotográficas a céu aberto) e do Instituto Moreira Salles.