O Inacabado

A Estrada Transpantaneira percorre 147 quilômetros através do Pantanal, a região de maior biodiversidade do Brasil. A construção deste projeto maluco na maior zona úmida do mundo começou no início da década de 1970 e foi finalmente declarada concluída em 1976 – apenas um terço da rota planejada pôde ser concluída. Embora as pessoas tentem combater isto com ajudas técnicas, a natureza dá o tom nesta parte inóspita do mundo. A estrada na planície pantanosa fica submersa cerca de metade do ano. Na época da seca há perigo de vida por causa dos animais silvestres, principalmente das onças-pintadas, que ainda é possível encontrar na estrada com um pouco de sorte – além de jacarés, capivaras, ariranhas, araras-azuis, antas e sucuris.

O zoológico sem cercas é uma rara história de sucesso na loucura autodestrutiva do Brasil contra seu próprio meio ambiente. Num país onde, em muitos locais, as intervenções antrópicas na natureza resultam na exploração de recursos e causam danos irreparáveis ​​à terra e à sua população, a Transpantaneira é uma exceção. Também aqui se presumiu querer domesticar a natureza, mas aconteceu o contrário: desde que os invasores mal sucedidos tiveram que recuar, a fauna e a flora tomaram conta da Transpantaneira. A construção contribuiu para a sustentabilidade e para o aumento da biodiversidade, pois valas e pontes criaram locais de alimentação e reprodução, condições ideais para a continuidade da existência de animais selvagens. Hoje o Pantanal tem a maior densidade de onças-pintadas e araras-azuis do mundo e abriga mais de 650 espécies de aves e 1.700 espécies de plantas. Graças à Transpantaneira, dizem os biólogos brasileiros.

Além dos habitantes animais, os vaqueiros pantaneiros, em especial, utilizam as águas para guiar seus rebanhos de gado até as fazendas, que chegam por becos sem saída. Não há cidades e a passagem é quase impossível devido ao escasso tráfego de automóveis.

Um tipo especial de viagem.

Texto: Martin Zinggl Fotos: João Marcos Rosa

Ficha técnica

Fotógrafo: João Marcos Rosa